CARTAS PARA MARIA | O ELEFANTE NA SALA
Leia ouvindo Photograph – Ed Sheeran
Aprendi que, se houver um elefante na sala, trate de apresentá-lo. Então, apresento o “câncer de mama triplo-negativo”. Esse subtipo de câncer representa cerca de 15% a 20% de todos os casos de câncer de mama no mundo e se destaca por afetar, geralmente, mulheres jovens e ser agressivo.
Essa foi a realidade da minha esposa Micaela e da minha família nos últimos dois anos e ainda é, após a partida dela. Receber a notícia do diagnóstico do câncer não abala só quem porta a doença, mas também amigos e familiares.
Micaela tinha 27 anos quando nos conhecemos e 35 quando recebeu o diagnóstico. Era formada em Psicologia, mas abandonou a carreira para cuidar dos nossos filhos.

Entre o diagnóstico e o dia em que ela partiu foram quase dois anos de tratamento e, ao voltar para casa após o enterro, não tive tempo de chorar, pois meus filhos precisavam jantar e tomar banho.
Não podemos mudar a realidade, temos que resolver como reagir. Não podemos trocar as cartas do jogo, mas podemos mudar a forma como jogar.
Foi muito difícil me ver sozinho com meus filhos. Questões práticas e simples tornaram-se complicadas e agora precisam de planejamento para que aconteçam. A vida não pára esperando que nos adaptemos à nova realidade, ela simplesmente segue e temos que trocar o pneu com o carro andando.
É um esforço diário para ser o pai que ainda tenho certeza que não sou.
Fico incomodado quando as pessoas dizem que o que eu faço é especial, que meus filhos têm sorte de me ter como pai. O mundo pode estar doente, mas o que faço não é especial. É normal. É o que todo pai deveria estar fazendo, cuidando dos seus e dividindo com a mãe as responsabilidades.
Porque não dizem o mesmo para toda mãe? Mães solo, mães que deixam de lado suas carreiras para se dedicarem aos filhos (como fez a Micaela), mães solteiras abandonadas pelos pais de seus filhos. Essas mães são verdadeiras heroínas. Eu não. Sou um cara comum, colocado nesta situação, que perdeu a esposa e está tentando fazer as coisas da melhor maneira possível, querendo e aprendendo a ser um pai melhor a cada dia.
Boa parte do pai que tento ser é graças a Micaela. Devo a ela e aos meus filhos a parte mais legal da minha personalidade hoje. O que algumas pessoas enxergam como algo bom é reflexo deles.
Durante todo o tratamento passei a escrever Cartas para Maria, onde o principal objetivo foi incentivar minha esposa a escrever cartas para nossos filhos
Desde então tenho escrito cartas, bilhetes e afins para minha filha Maria Clara e meu filho Francisco, registrando para que eles leiam em algum momento no futuro.
Foram essas cartas que me trouxeram até o “Cotidiano Dela” e onde passo a compartilhar o que aprendi e ainda aprendo com Micaela e meus filhos.
Meu nome é Rafael Stein, sou pai da Maria Clara, de 7 anos, e do Francisco, 3 anos, e fui casado com a mulher dos meus sonhos.
Rafael Stein
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