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Olhar o mundo com outros olhos e acreditar em diversos ângulos. A Arte faz isso com a gente, um contexto e várias interpretações. A gente deveria ir mais em exposições e depois olhar melhor para mundo. Qual é o seu reflexo? O que é eterno? O que é transitório? O que é arte?
No dia 16/08 a Galeria Fernandes Naday aqui de Campinas recebeu a Exposição “Eterno e Transitório” e eu tive o prazer de ver tudo de muito perto. Fantástico, diga-se de passagem. O conjunto de obras apresentados no espaço da galeria materializa a dicotomia presumida entre o eterno e o transitório por meio de fragmentos efêmeros capturados do meio urbano.
Fabiola Chiminazzo apresenta desenhos elaborados com carimbos que trazem as palavras TUDO e NADA. A mancha final leva a um movimento de aproximação e afastamento do espectador dos trabalhos alterando a percepção inicial. Convidada para interferir diretamente na parede da galeria, a artista passa alguns dias experimentando intensamente a questão do tempo presente. AGORA e SEMPRE são fundidas uma a outra após serem carimbadas exaustivamente durante cinco dias. Para a artista, o agora é sempre.
O trabalho de Flaminio Jallageas antecede o momento de captura da imagem nos trabalhos “Estado de Conservação” e “Estado de Mudança”. As fotografias mostram um mesmo ambiente em dois momentos que se diferenciam pela estratégia de veladurar o mobiliário que o compõe. Em um momento, a imagem apresenta todos os móveis cobertos com lençóis brancos que permitem a identificação de seu uso, porém vedam o reconhecimento de qualquer informação de seu estilo ou história de uso. Em um segundo momento, a imagem tem cobertos os mesmos objetos com papelão, material utilizado comumente para o transporte de mudanças e aqui, tanto quanto na primeira imagem, somos privados de sua forma e levados à evidência do caráter provisório e transitório trazido pelo material.
A obra da artista Daisy Xavier é composta por um empilhamento de objetos da casa onde viveu sua infância. Cadeiras fragmentadas e um prato sobrepõem-se de maneira aparentemente instável e precária para criar um espaço de equilíbrio. O uso desses materiais tão comuns às pessoas sugere uma aproximação estética com o espectador, para em um segundo momento causar o estranhamento de sua montagem e a percepção de suas qualidades escultóricas.
Cesar Fujimoto, constrói no espaço da galeria a instalação artística “Sonho da casa própria II”. Composta por uma série de tijolos brancos pintados com sombras de fachadas arquitetônicas em negro. O conjunto todo tem duas dezenas de peças instaladas nas paredes do corredor que liga as salas de exposição. O agrupamento dessas peças sugere um novo cenário urbano dentro do espaço expositivo.

Patrick Dansa, apresenta uma projeção em vídeo de uma ação urbana realizada na praça da Cinelândia, no Rio de Janeiro, em frente a Câmara de Vereadores, no dia do trabalho de 2013. Durante o período de oito horas o artista lava o chão formando um triângulo, definido pelas áreas que estão sujas e limpas. Com um vértice apontando para a câmara, também onde está o ponto de vista do vídeo, a pirâmide se apresenta como uma referência a estrutura adotada tanto pelo governo quanto por instituições religiosas para definir o poder.
Fernando Arias apresenta tapeçarias confeccionadas por trabalhadores da região da Caxemira durante a residência que realizou em Srinagar. O artista elege o elemento social como ponto de partida para elaboração de seus projetos. Nesta proposta convidou artesãos locais para realizar o trabalho a partir de imagens fotografadas por ele que retratam o cotidiano dos moradores deste lugar, como uma maneira de possibilitar a reconstrução da identidade dessa população que vive em meio a uma disputa territorial entre Paquistão, Índia e China.
A artista colombiana Rosario López combina seu interesse pela paisagem e o espaço do cubo branco. Por meio de registros fotográficos de um tecido prateado em um campo aberto, apresenta seu desejo em tornar visíveis as forças das intempéries da natureza como o vento e a temperatura. O instante da imagem é apenas um micro recorte de uma cena que assistimos como um filme.
As variadas linguagens que compõem os trabalhos da exposição “Eterno e Transitório” confirmam a hibridação dos meios empregada por esses artistas de forma a configurar o sintoma pretendido pelo título do projeto que os reúne e apresenta, ou seja, identificar tudo o aquilo que se precipita entre o que permanece e o que se ajusta na contemporaneidade.
Exposição coletiva: “Eterno e Transitório”
Artistas: Fabiola Chiminazzo, Flaminio Jallageas, Daisy Xavier, Cesar Fujimoto, Patrick Dansa,
Fernando Arias e Rosario López.
Curadoria: Hebert Gouvea
Visitação: de 18 de agosto a 12 de setembro de 2014, de segunda a sexta das 9hs às 18hs.
Galeria Fernandes Naday | Rua: Antônio Lapa, 1180, Cambuí – Campinas
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