Leia ouvindo: Maria Gadú – Encontro
Quando chega aos 15 anos, a menina acha que já mudou bastante. Todo aquele lance de debutante, a menstruação provavelmente já desceu, o primeiro beijo provavelmente já aconteceu. Uma vida sexual pode estar começando a ser desenhada por desejos diferentes e estranhos. Aí ela chega aos 18, e agora sim, está mudada. Ela já pode dirigir, ir pra balada, é obrigada a escolher um governante, consegue beber loucamente no meio da rua. Entra na faculdade, escolhe a profissão e, finalmente, vira dona de si.
Quando batem os 20 e poucos vê que não era dona de nada, e a vida está finalmente começando a se desenrolar. Quanto boleto, quanta gordura pra queimar! É tratamento estético, academia, conta de celular e de psicóloga, satisfação pro chefe daqui, ligação pra mãe que tá lá. Tanto as obrigações lhe consomem que, quando piscou os olhos, ela chegou aos 30. E descobre que essa tal metamorfose ambulante não para, mesmo.
Entende que, mais satisfatório do que atingir picos de descobrimento, é finalmente aceitar que a gente não é dona de destino nenhum, e simplesmente começar a deixar rolar. Não posso falar muito sobre as fases da vida de um homem – eu nunca fui um, por mais que meu comportamento deixe dúvidas –, mas acredito que já tenha convicção suficiente para afirmar que ser mulher é uma eterna e constante mudança. Ano após ano, mês após mês, dia após dia.

Um corte de cabelo novo parece que abre um portal para uma nova vida. Uma mudança no estilo de se vestir e parece que trocamos de palco para encenar uma nova “eu mesma”. É solteirice que te deixa frenética, é namoro que te deixa serena. Gravidez? Que loucura! Antes era só eu, agora somos nós. Novas unhas, sapatos, amores e temores. Sinto que a roda feminina gira em velocidade particularmente diferente. Mas pode ser deliciosa, não pode?
A beleza nisso tudo é aceitar que a vida não tem, mesmo, um script. Pode ser que alguns elementos já estejam escritos nas estrelas, mas o caminho que as coisas vão tomar será sempre uma incógnita. A minha ideia? Me permitir descobrir as novidades que o Cara lá de cima me reserva. E sugiro que seja assim para você também. Concordo que somos agentes de muitas das coisas que nos acontecem, e nossos esforços resultarão em benefícios maravilhosos para a nossa própria história. Mas sobre o que não temos controle… “Deixa estar, que o que for pra ser, vigora”.
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