Leia ouvindo: Adriana Calcanhoto – Esquadros
Decidimos assistir o pôr do sol daquele dia na pista de vôo livre. Cinco minutos de esforço numa subida íngrime foi o necessário para uma vista de tirar o fôlego.
Final de mais um dia de inverno, mas não estava frio. Outras pessoas tiveram a mesma ideia. Era segunda-feira. Geralmente pessoas admiram um evento cotidiano como esse do carro, da janela do escritório ou no susto, quando caem em si que o dia está se despedindo.
Aquilo que faz parte da rotina passa tão desapercebido, mas não deveria ser assim. Um pôr do sol é um evento. Uma despedida. Um muito obrigada.
Dentro da minha reflexão coube um grupo que tinha acabado de chegar e se acomodava no gramado. Vozes, risadas e alguma bagunça. Um violão. Dentro da minha contemplação coube tudo. Inclusive – mais – uma foto para o rolo da minha câmera.

A vida como ela não é. Pronto, do rolo da câmera para o meu Instagram.
A vida como ela não é, em foto. Na real, ela é muito melhor. No instagram a gente posta a foto que quer, com legendas que a gente não sabe bem de onde veio e as vezes fica se perguntando porque compartilhar algo que na realidade, é maior do que um simples registro.
Fotografia é eternizar momento e sentimento. No compartilhamento desenfreado da vida como ela não é, a gente eterniza o que não precisa e deixa sentimentos à deriva.
Ninguém é tudo aquilo que posta, nem dá para esperar que seja. O mundo seria perfeito, com pessoas de pele perfeita, com famílias na mais pura harmonia e com relacionamentos na mais pura sintonia.
A vida como ela não é.
Não vamos generalizar. Não vamos! Tem realidade, sincronicidade e a vida como ela é. Nua, crua e exposta.
Dentro da minha reflexão coube tudo, da foto ao texto. Coube a certeza de que por mais bonita que seja a fotografia, só quem estava vivendo dentro ela sente.
Sente e nem percebeu. Aquilo que faz parte da rotina passa tão desapercebido, mas não deveria ser assim.
Um pôr do sol é um evento. Uma despedida. Um muito obrigada. Amigos reunidos. Violão. Vozes. Risadas. Alguma bagunça. É o final de mais um dia de inverno. Um muito obrigada.
Toda segunda-feira deveria ser assim.
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