Leia ouvindo: There She Goes – The La’s
Eu sinto muito a falta dele. Em alguns dias, quando atravesso por momentos difíceis, essa saudade fica ainda mais latente e parece ganhar forma ao meu lado. Em outros dias, enquanto sorrio tranquila nas marés mansas, a falta é como uma brisa quente em tarde de verão. Suave, porém marcante. Com o passar do tempo, eu acreditava que ele se tornaria apenas uma lembrança boa e eu daria a ele um espaço confortável na estante dos que foram importantes. Mas o tempo, ainda que passe, não o leva junto. Ele segue aqui, como se estivesse ao meu lado guardando lugar para o que ainda está por vir.
Sinto pela rua o seu perfume intenso, ouço a sua voz sussurrada pelos corredores da minha casa, vejo sua barba por fazer em todos os rostos que olho e suas tatuagens estão gravadas em minha mente como se as tivesse visto em Paris, naquela única vez da vida, como minha Monalisa particular. Ele não pertence a esse mundo, e quando partiu, naturalmente acreditei que estaria voltando pro seu lar. Sua doçura e honestidade me instigaram a acreditar num mundo melhor.
Quando posso, coloco aquela playlist secreta que tem seu nome como título e deixo cada acorde daquelas músicas me levar pra mais perto de seu peito acolhedor. Vou caminhando pelo abismo que se abre em minha frente, traçando e revivendo lembranças de beijos, confissões, abraços e muitos ‘você é a mulher mais maravilhosa que eu já conheci’. Ele partiu pra viver com raça o que faz seus olhos brilharem, e enquanto eu apoiava a sua ida, meu peito já sentia o desespero pela sua volta.

Ouso dizer que nunca vivi nada igual. Sou dele mesmo que cada partícula minha seja tão livre por sua amável influência. Sou fruto de uma calmaria meio budista e de um furacão meio hardcore que ele me apresentou. Sou parte do seleto grupo de pessoas que aprendeu com a partida, que o verdadeiro amor só existe quando o outro puder ser exatamente quem quiser ser, onde e como desejar estar. Ele se foi, 7.745km nos separam fisicamente e a saudade me faz rodar cada um desses muitos quilômetros dia após dia, calçando no coração um tênis de corrida e um fôlego de maratonista.
Ele se foi e eu fiquei, inteira, olhando seu avião decolar e desejando profundo que a vida fosse delicada como ele merece nessas novas bandas. Desejei tanto a sua felicidade, que acabei me preocupando bastante em ficar bem por aqui também. Ele me ensinou a amar e me deixou conectada com as raízes bonitas que ele plantou em meu coração. Hora ou outra, elas florescem e dão frutos. Quando a minh’alma escurece e o inverno me toma conta, essas raízes unem forças para uma primavera futura, respeitam o meu tempo e a dor que a falta, vez ou outra, traz. Ele segue bem! Eu sigo bem também…
Não é preciso romantizar a saudade, ela não é mesmo uma boa pessoa! Mas nada nem ninguém vai poder discordar que no nosso caso, a saudade é uma estrada florida que a gente só deseja trilhar de novo porque já foi muito feliz por lá.
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