Sim, eu tenho medo de ser mulher
Em pleno 2013, num mundo onde temos o direito de ir e vir, acesso a quase tudo, onde colocamos a boca no trombone porque estamos insatisfeitos com o governo, entre tantas outras coisas, eu tenho muito medo de ser mulher.
Claudia Regina, colunista do Papo de Homem, escreveu um belo texto sobre ser mulher em um mundo tão complicado. Como se sente uma mulher, recomendo a leitura.
Hoje, logo hoje, começo de semana, viagem de trabalho, alguns e-mails para responder e aquela sensação de quê o mundo vai te engolir, tomei um susto. Além de toda a pressão do dia-dia, sofri a real pressão em ser mulher.
Veja bem, eu só estava indo para o meu trabalho, como tantas outras pessoas e mulheres. Um cara de seus 35 anos passou de carro do lado mais devagar e perguntou se eu estudava na PUC-Campinas, pensei em não responder, mas disse que não e saí andando. Quando ele parou no sinal, veio um “Você é muito gata, sabia?!” Simplesmente ignorei e segui o meu caminho. Porque ser mulher é isso, ignorar cada olhada, cada “cantada”, cada grito de “gostosa” ou outras coisas absurdas que os homens dizem em alto e bom tom.
O que mais me surpreendeu foi esse mesmo cara do carro me procurar e chegar do meu lado, agora à pé para puxar assunto. Chegou dizendo um “Oi, te encontrei!”, como se eu quisesse que ele me procurasse, claro! Fiquei em choque e milhares de coisas passaram na minha cabeça. Isso porque o local que eu estava, na frente da prefeitura de Campinas, tinha ponto de ônibus, gente andando para todos os lados e vários carros da guarda municipal e nem com tudo isso, um homem já “feito” deixou de me abordar.
Graças a Deus, comigo nada aconteceu! Só o pânico e a bosta da pressão psicológica de ser mulher, de conviver com o medo de assalto, estupro ou qualquer outra coisa de pior que possa acontecer.
Me senti invadida em vários sentidos, até porque, qual foi a abertura que eu dei para aquele idiota me procurar no meio da uma multidão e vir encher o saco?
“Aconteceu quando eu tinha treze anos. Praticava um esporte quase todos os dias. Saía do centro de treinamento e andava cerca de duas quadras para o ponto de ônibus, às seis da tarde. Andava pela calçada quase vazia ao lado de uma grande rodovia. Dessas caminhadas, me recordo dos primeiros momentos memoráveis desta violência urbana. Carros que passavam mais devagar do meu lado e, lá de dentro, eu só ouvia uma voz masculina: “gostosa!”. Homens sozinhos que cruzavam a calçada, olhavam para trás e suspiravam: “que delícia.” Eu tinha treze anos. Usava calça comprida, tênis e camiseta.
Hoje senti um pouco mais de medo em ser mulher. Hoje percebi o quanto fraca sou como mulher e isso não é culpa da educação que os meus me deram, isso é culpa da sociedade em que vivo, que querendo ou não, permite que esse tipo de coisa aconteça com qualquer uma, da mais pobre à mais rica.
Se o homem não protege a mulher, que Deus proteja. Porque ser mulher é foda!
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Nossa Ju, esse texto fala muito do que estamos vivendo agora. Beijos!