Leia ouvindo: Radiohead – Creep
– Você aprendeu amar o que recebe em troca?
Faço cara de espanto. Não sei responder. Não sei se realmente aprendi amar aquilo que recebo em troca.
Na verdade, acho que o maior defeito do ser humano é esse, querer sempre mais. Dificilmente amamos realmente aquilo que recebemos. Dificilmente vemos o real valor no esforço do outro em dar o melhor de si. Nos tornamos exigentes, não é qualquer tipo de doação que nos agrada.
Selecionamos amor como cardápio de restaurante. Será mesmo que precisamos ser assim, tão exigentes? Me pergunto isso todos os dias: será que amo aquilo que recebo? Não sei. Acho que de tão exigente, me tornei uma egoísta.
Não é qualquer doação que me agrada. Triste, eu sei. Faço parte de uma geração de insatisfeitos com o amor. Nos apaixonamos com uma facilidade absurda, coisa que minha bisavó conhecia como fogo de palha. Desistimos de relacionamentos com uma facilidade ainda maior. Praticamos doação e abandono com louvor. É rotineiro, cotidiano.
[ Imagem: reprodução ]
Manter qualquer tipo de relação se tornou o grande desafio da nova era. Namorar por anos à fio é estranho, separar em plena lua de mel, comum. Cansei de ver casais se casarem só pela festa e sua ostentação. Cansei de ver relacionamentos fadados ao fracasso serem vendidos como felicidade plena no feed de notícias do facebook. Será mesmo que estamos fazendo certo?
Não acho que é necessário amar em migalhas, isso jamais. Ninguém precisa aceitar esse tipo de amor. Acho sim, que precisamos voltar a amar por completo as miudezas do amor. A cia no domingo, o jantar feito à quatro mãos, o bilhete em cima da mesa, a mensagem de bom dia, o andar de mãos dadas, as conversas animadas e a rotina. Vamos amor a rotina à dois! Vamos amar aquelas pequenas doações diárias do outro para nós.
Estamos valorizando presentes ao invés de presença. Estamos transbordando valores invertidos e secando os valores reais que ainda restam. Para saúde emocional de todos, é preciso valorizar o simples.
Na próxima vez que permitir uma aproximação, que seja de todo coração, sem criar enormes expectativas ou terminar em vão. Dê chance de crescer sem haver poda preventiva. É necessário baixar a guarda e deixar acontecer. Se machucar, deixe o tempo curar. Não existe tarja preta que alivie a realidade. Precisamos encarar melhor nossos traumas e dores, e olhar bem dentro dos olhos de amores. Voltemos para as relações transparentes e vivas.
Amor é troca. Mas antes de ser amor, é doação.
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Eu e ele vivemos juntos a vinte anos,temos cumplicidade companheirismo,liberdade para sermos nos mesmos.Temos amor em nossa relação e principalmente respeito mútuo.
“Estamos transbordando valores invertidos e secando os valores reais que ainda restam.”